Tensão pré-prova – será que estou sozinho nessa enrascada?

Hoje, aproveito o espaço para escrever aos novos atletas que começam em algum esporte e decidem participar de provas. Um grande passo!

Por: Equipe Marcio Atalla


Tensão pré-prova – será que estou sozinho nessa enrascada?

Tentei buscar em minha memória qual foi a primeira vez que entrei em uma prova e não foi possível lembrar essa tão distante data em que fui colocado à prova em um evento esportivo.

Talvez tenha sido em uma provinha de natação, na distância de 25m no estilo crawl. Ou até mesmo, uma competição de judô com os meus lá quatro ou cinco anos. Ambas no clube CIMAN, em Resende.

De lá pra cá, já se vão 35 anos de competições, seletivas, tiradas de tempo, testes de esforço máximo. Enfim, eventos esportivos onde fui colocado à prova, fui testado, e precisei unir todos os atributos que um evento como esse exige: coragem, controle emocional, espírito de superação, força, disciplina, camaradagem, entre tantos outros.

Mas o que me chama mais a atenção, nesses mais de 30 anos de competições esportivas, é que em todas elas existe algo em comum presente até os dias atuais: a tensão pré-prova. Certa vez um amigo, muito nervoso minutos antes da largada, me disse:

_ Ah, mais você nem nervoso fica mais!!!!
Essa é uma ideia comum que atletas iniciantes tem sobre os atletas mais experientes. Percebi que talvez eu não aparentasse mais estar nervoso minutos antes da largada. E talvez essa seja a primeira diferença entre um atleta experiente e um atleta menos experiente: o controle dos nervos. Mas eu disse a esse amigo:
_ Parceiro, NERVOSO TODO MUNDO ESTÁ. Fique tranquilo!
Se te conforta dizer isso, você estará nervoso. Mas todos estarão. Mesmo os que aparentam ser aquele monge tibetano, que chega dá inveja tamanha tranquilidade. E digo mais: combater o nervosismo é perda de tempo. Por isso, entendê-lo é saber lidar com ele e essa é a minha dica de hoje. Lembro-me também de um treinador de tiro que nos acompanhou no ciclo olímpico dos Jogos Panamericanos do Rio em 2007/ Olimpíada de Pequim 2008.

Ele nos treinava em uma prova que não controlar esse nervosismo é jogar anos de trabalho no lixo: o tiro esportivo do pentatlo moderno. E nos dizia uma coisa muito interessante: admitir que estaremos nervosos; aceitar que no dia estaremos nervosos; e afirmar que mesmo assim, faremos um
bom tiro, nervoso. Acabar com ele é tarefa praticamente impossível. Como eu não estaria nervoso em minha primeira participação em Jogos Panamericanos, com família e amigos presentes, com toda expectativa brasileira depositada no primeiro mega-evento organizado
pelo Brasil depois de tanto tempo?

Sem chance. O nervosismo estava lá. Mas ao ouvir essas palavras desse meu antigo técnico “vc estará nervoso e fará uma ótima prova nervoso”, aprendi que gastar energia em controlá-lo e aprender a lidar com ele, é muito melhor do que gastar energia para eliminá- lo. Mas o que seria esse nervosismo pré-prova, seja no dia anterior ou mesmo no dia do evento? Bom, esse nervosismo, esse frio na barriga, essa vontade de começar logo, nada mais é do que ANSIEDADE.

E essa ansiedade está presente em qualquer tipo de evento. Seja ele um evento que exija muito de sua condição física ou uma exigência mais técnica e mental.

Um maratonista sabe que durante duas, três ou quatro horas, estará sentindo dor,desconforto e precisando controlar sua prova, ritmo e hidratação. E mais, ele sabe que ao cruzar a linha chegada , deverá estar completamente esgotado. Qualquer economia de energia em provas como essa poderia ser transformada em uma melhor performance. Já um jogador de vôlei, sabe que a concentração, o raciocínio rápido, a força explosiva e a
técnica, serão muito mais exigidos do que, de fato, chegar a fadiga extrema. De igual maneira, a ansiedade estará presente. Em esporte coletivo, pelo menos, essa ansiedade pode ser dividida entre doze, vinte e dois ou até oitenta atletas, como é o caso de um time de futebol americano.

E um atirador? Este sabe que não haverá dor, fadiga extrema e muito menos um time para sincronizar suas ações. É uma verdadeira guerra das mentes, onde vence o mais técnico, mas principalmente o atleta que possui o melhor controle emocional.

Em todos esses casos, a ansiedade e a tensão pré-prova estarão presentes.

Transportando para o esporte amador, não há dúvida que os níveis de ansiedade atingem picos estratosféricos às vésperas de um evento. São naturais, e como falei, ocorrem com todos ali presentes. Portanto, na próxima prova que você estiver, não pense que vc está sozinho na ilha da ansiedade e nervosismo e todos a sua volta estão com seus batimentos cardíacos e seus intestinos funcionando de maneira super normal. Não mesmo. A grande diferença entre iniciantes e experientes é uma só: o nervosismo do iniciante o distrairá, o tirará do ritmo correto, o fará esquecer partes da regra (como afivelar um capacete no triathlon) e pode vir sim a atrapalhar seu desempenho. Já o nervosismo do atleta experiente o fará revisar dez vezes o percurso da prova, o manterá em estado de alerta para que ele não caia nas armadilhas de ritmo de adversários, coelhos, desvios no caminho e o manterá ativo e pronto para dar o seu máximo sem medo ou covardia de entregar o melhor desempenho que ele puder naquele dia de competição.

E finalizando minha dica de hoje, te digo: quer migrar de atleta iniciante para um atleta experiente? Só tem uma maneira. Compita bastante. O máximo que for possível dentro de seu planejamento. Teste-se. Não tenha medo de botar a cara. Coragem. Vá em frente. Tenho certeza que em breve alguém virará pra você minutos antes de uma largada e dirá “ah, mas você nem nervoso fica mais”. Olhe pra ele e diga: fico sim. Aliás, todos aqui presentes ficam. A diferença é que agora eu e mais alguns outros conseguimos apenas canalizá-lo e controlá-lo um pouco melhor.

Wagner Romão é triatleta, Major do Exército, professor de Educação física e técnico de triathlon nível I pela CBTri. Integrou as delegações nacionais  nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008 e Jogos Panamericanos Rio 2007 e Guadalajara 2011.

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