Coronavírus: atendimento online de diversas especialidades médicas evita deslocamentos em quarentena
Dermatologistas, cirurgiões plásticos, angiologistas, nutrólogos e ginecologistas passam a aderir ao atendimento online como forma de ajudar pacientes em dúvidas, evitar deslocamentos no período de isolamento social e desafogar serviços de saúde
Por: Equipe Marcio Atalla
Em muitas partes do país, o COVID-19 forçou o fechamento de bares, restaurantes, salões de beleza, spas e até consultórios médicos, que foram solicitados a cancelar ou adiar cirurgias eletivas, a fim de liberar leitos hospitalares para um aumento previsto de pacientes.
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Para cumprir os avisos de distanciamento social, alguns dermatologistas, cirurgiões plásticos, angiologistas, nutrólogos, ginecologistas e diversos especialistas, que atendem em consultório particular, também fecharam suas portas para consultas não emergenciais. “Durante a fase de pandemia, nós temos picos de infecção viral na população. Chegamos em um momento em que teremos uma grande crescente logarítmica de infectados. A gente solicita que a população não faça exames de rotina nessa fase de pico de infecção viral. Nas primeiras semanas de orientação de isolamento social seria interessante que a população não saísse de casa e não se expusesse ao maior índice de infecção”, afirma a Dra. Ana Carolina Lúcio Pereira, ginecologista membro da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia). Com os consultórios físicos fechados, os médicos estão recorrendo às visitas virtuais como forma de tratar pacientes de longe.
Para os médicos e seus pacientes, o impulso em direção à telemedicina, reconhecido pelo Conselho Federal de Medicina em ofício enviado ao Ministério da Saúde, significa que as consultas médicas podem ocorrer mesmo em quarentena. “É uma maneira de não deixar os pacientes desassistidos nesse período. Não sabemos quanto tempo vai durar esse período de pandemia, mas não podemos agravar esses problemas crônicos de saúde da população, então a telemedicina é um avanço. De acordo com o documento encaminhado, a telemedicina poderá ser exercida nos seguintes moldes: teleorientação, que permite que médicos realizem à distância a orientação e o encaminhamento de pacientes em isolamento; telemonitoramento, que possibilita que, sob supervisão ou orientação médicas, sejam monitorados a distância parâmetros de saúde e/ou doença; e teleinterconsulta, que permite a troca de informações e opiniões exclusivamente entre médicos, para auxílio diagnóstico ou terapêutico”, explica a nutróloga Dra. Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN) e que já está atendendo pacientes virtualmente. “O que propomos são orientações gerais, recomendações de direcionamento ao hospital, solicitação de exames, emissão de atestados, troca de receitas, terapêutica simples e medidas de suporte em um momento que os pacientes estão com o acesso restrito aos serviços de saúde”, afirma a Dra. Ana Carolina, que ainda não implementou o método.
A tecnologia de telemedicina estava em uso nos Estados Unidos antes mesmo do surto de coronavírus, mas lá as regras para seu uso foram alteradas para acomodar médicos e pacientes. Nos países em que esse tipo de atendimento é permitido, os médicos podem usar aplicativos populares que permitem bate-papos por vídeo, como o FaceTime, o Google Hangouts, o Skype ou o Facebook Messenger, sem risco de penalidade por descumprimento de regras. “Pode ser usada qualquer plataforma (WhatsApp, Skype, Zoom, FaceTime) desde que você possa visualizar o paciente”, afirma a Dra. Marcella. “Estou fazendo atendimentos por FaceTime. Acredito que a telemedicina é uma tendência grande que já é feita em outros países, principalmente Estados Unidos. Isso era questão de tempo até chegar ao Brasil. Ela não substitui a consulta presencial, mas serve como uma forma de orientação aos pacientes”, afirma o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. “A telemedicina é muito usada para pacientes que já foram operados, para fazer um acompanhamento de pós-operatório se o paciente mora longe. Nessa fase em que não é para ficar saindo de casa, ela serve muito bem para retornos. É claro que, se surgir qualquer dúvida e precisar de um atendimento presencial, não há alternativa: tem que ser feito presencialmente”, reitera o cirurgião plástico.
A angiologista e cirurgiã vascular Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, também está atendendo online e dando orientação, mas ressalta: “Importante salientar que esse atendimento terá limitações, já que não existirá o exame físico, e algumas medidas devem ser observadas para manter a segurança de ambas as partes. O primeiro ponto é o meio de comunicação utilizado, que deve garantir a integridade, segurança e o sigilo de informações. O segundo ponto é que toda a consulta deverá ser, obrigatoriamente, registrada em prontuário como realizada em consulta presencial contendo data, hora e método de comunicação utilizado. Além disso, os médicos estão autorizados a emitir atestados ou receitas médicas desde que assinados eletronicamente e acompanhados de informações sobre o profissional. Também deverão seguir os requisitos estabelecidos pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa). E, por último, os pacientes devem ser informados sobre esse método de atendimento e devem estar cientes de suas limitações quando comparados a uma consulta presencial”, afirma a angiologista.
A dermatologista e tricologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, pretende colocar em prática as consultas online para Dermatologia Clínica e retornos. “Vou fazer mais para dar um suporte para as pacientes que eu já conheço, que têm diagnóstico, e para casos mais urgentes. Por exemplo, uma suspeita de alopecia frontal fibrosante, algo que eu deveria já começar a medicação antes que desenvolva uma alopecia cicatricial”, diz a dermatologista.
Como o paciente pode se preparar para uma videoconferência – Em casos dermatológicos e tricológicos, em que as alterações podem ser vistas na pele, há uma grande preocupação, pois as chances são de que seu apartamento não tenha a mesma iluminação fluorescente que um consultório médico. “A questão da foto pode ser um problema”, afirma a Dra. Kédima Nassif. Como os diagnósticos serão baseados em fotos e vídeos, é crucial usar boa iluminação e tirar as fotos da mais alta qualidade possível. Tenta o seu melhor.
É aconselhável que pacientes busquem um local com boa iluminação, estejam sem maquiagem, puxem os cabelos para trás e tirem fotos em vários ângulos. Em casos de erupções cutâneas ou lesões, é necessário tirar fotos em close e mais afastadas da área afetada e de toda a área do corpo.
Ajuda para além da própria especialidade – A cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e do Colégio Brasileiro de Medicina do Estilo de Vida, enviou para todos os pacientes que atende uma mensagem para ajudar, de maneira virtual, pacientes que têm dúvidas com relação a doenças. “Somos médicas, não trabalhamos em emergência e nem na linha de frente, por isso estamos em isolamento social. Mas podemos ajudar nossos colegas, verdadeiros heróis que estão a postos em hospitais e serviços de saúde. Podemos avaliar situações de doenças outras, como infecções urinárias, gastroenterites, etc, evitando que as pessoas precisem ir a um pronto-socorro por casos que podemos resolver e dar as devidas condutas com receitas de antibióticos se necessário. Foi regulamentada telemedicina e as farmácias aceitam receita em PDF. Podemos fornecer receitas de remédios de uso contínuo vendidos, respeitando os critérios de prescrição que julgarmos pertinentes. Ajudamos também com orientação via whatsapp e celular sobre sintomas que devem levar o paciente às urgências, como sinais de insuficiência respiratória; também fornecemos orientação de medidas preventivas e de cuidados”, diz a cirurgiã plástica. “Juntos, todos nós podemos ajudar, e assim podemos fazer nossa parte. Precisamos desafogar as UPAs e pronto-socorros para nossos colegas terem condições de lidar com essa pandemia grave que nos assola”, finaliza a médica.
FONTES: DRA. ALINE LAMAITA, DRA. ANA CAROLINA LÚCIO PEREIRA, DRA. BEATRIZ LASSANCE, DRA. KÉDIMA NASSIF, DRA. MARCELLA GARCEZ, DR. PAOLO RUBEZ