Remover o siso é realmente necessário em todos os casos?
Extrair o siso é um procedimento que causa apreensão. Nem todo mudo precisa removê-lo, mas é preciso orientação profissional
Por: Equipe Marcio Atalla
O mero pensamento de fazer uma visita ao dentista aterroriza muitas pessoas, que fogem do profissional sempre que possível. Mas quando o dente do siso, o último a nascer no final da adolescência ou começo da vida adulta, começa despontar a necessidade de ir ao consultório parece inescapável. Ao contrário do que muitos pensam, nem sempre a extração se faz necessária, mas é preciso ficar atento para evitar problemas de saúde.
“Essa extração é indicada para 60 a 70% da população. Só no consultório onde atuo são aproximadamente 100 exodontias por mês. Por isso é importante sempre fazer uma radiografia para verificar se eles realmente não estão presentes, pois podem estar dentro do osso e às vezes o paciente nem sabe da sua existência”, comenta o cirurgião bucomaxilofacial Fábio Ricardo Loureiro Sato.
Para que serve o dente do siso?
Apesar de atualmente ser mais reconhecido como fonte de dores e preocupações, o chamado “dente do juízo”, por seu aparecimento tardio na formação da dentição definitiva, o siso já desempenhou papéis importantes na história da humanidade.
Sua principal função, explicam os especialistas, é aumentar a eficiência mastigatória dos alimentos mais sólidos e, portanto, duros. Após milhares de anos de evolução, a introdução de alimentos cozidos e industrializados na dieta do ser humano, cujo processo de mastigação é bastante mais fácil em relação aos ingeridos por nossos ancestrais das cavernas, esses dentes, progressivamente, perderam sua função inicial.
Procedimento é realizado por quase 500 mil brasileiros todos os anos
Um levantamento feito pela revista especializada “Surgeon”, do Reino Unido, apontou que anualmente cerca de 152 mil pessoas realizam a cirurgia. Estudo semelhante ainda não foi realizado no Brasil, mas seguindo a estimativa da pesquisa, é possível imaginar que em torno de 480 mil pessoas extraiam o siso anualmente no país.
No momento em que começam a surgir, a arcada dentária está praticamente completa e o que pode ocorrer é que eles não tenham espaço suficiente para se desenvolver sem causar alterações. Os principais afetados são aqueles que têm a arcada pequena.
O resultado disso é que eles podem ficar presos na gengiva, dificultando a escovação. Com a higiene prejudicada e por sua localização no fundo da boca, pode ocorrer processo inflamatório no local, causando dor, inchaço e mau hálito.
“Esses dentes também podem estar associados ao aparecimento de cistos e tumores nos maxilares. Por isso, em muitos casos, a extração dos dentes do siso é recomendada. Entretanto, caso o dente consiga erupcionar totalmente e o paciente consiga manter uma boa higienização, a sua extração não é obrigatória”, explica Sato.
O nome dessa infecção, causada pelo acúmulo de restos alimentares abaixo da gengiva, é pericoronarite, que pode evoluir para situações mais graves, causando infecções potencialmente letais.
Quando remover o siso?
A idade ideal para a remoção é entre 16 e 20 anos, quando a raiz não está totalmente formada e o osso ainda apresenta menor rigidez, o que facilita a extração e evita possíveis complicações, como fraturas de mandíbula e parestesia, que é uma dormência persistente após a realização do procedimento cirúrgico por alguma lesão nos nervos da região.
“Muito da preocupação que se tinha no passado em relação ao procedimento cirúrgico é minimizado hoje em dia com a utilização de técnicas avançadas, que melhoram a recuperação no pós-operatório. Uma cirurgia para extração dos dentes do siso raramente ultrapassa 1 hora”, afirma o cirurgião.
O paciente também pode ser sedado antes ou depois da cirurgia, complementa o cirurgião, o que diminui seu nível de ansiedade, tornando o procedimento mais confortável. Isso possibilita a extração dos quatro dentes do siso de uma vez só.
Se riscos extras, como condições de saúde preexistentes ou possibilidade de fratura da mandíbula, forem constatados, a operação pode ocorrer em ambiente hospitalar.
E depois?
Se tudo correr bem, não há com que se preocupar. Mas isso dependerá da colaboração do paciente, que deve respeitar as recomendações profissionais. Para que o pós-operatório aconteça sem dor, Sato faz algumas orientações:
“Para isso, é recomendado que nos primeiros três dias a dieta seja gelada e pastosa, e que atividades físicas mais intensas e a exposição solar sejam evitadas. Dessa forma, em poucos dias o paciente se recupera e já pode retornar às suas atividades normais do cotidiano”.
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