Dieta e saúde mental: há ligação?
Estudo indica que má alimentação pode gerar ansiedade e depressão
Por: Equipe Marcio Atalla
A saúde mental é um dos maiores desafios no mundo de hoje, com doenças que atingem este campo tendo se tornado verdadeiras epidemias. E no Brasil, a questão vai muito mal.
O Brasil é o maior país do mundo em casos de depressão, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), com 5,8% da população brasileira sofrendo com a doença, ou seja, quase 12 milhões de pessoas com depressão.
E o país exibe ainda outra triste liderança: é o primeiro do mundo também em casos de ansiedade, de acordo mais uma vez com a OMS. Chega a 9,3% o percentual da a população com o problema, o que equivale a quase 19 milhões de pessoas.
E agora um estudo aponta que problemas como ansiedade e depressão podem estar ligados à má alimentação, que levaria a alterações cerebrais que desencadeariam ou potencializariam estas doenças mentais.
Ficou interessado em saber mais? Então leia esta reportagem até o final.
O que diz o estudo
A preocupação com a saúde mental aumentou nos últimos anos, principalmente devido ao crescimento dos casos de estresse, ansiedade e depressão, em função da epidemia da Covid-19, que mexeu com a cabeça de grande parte da população mundial.
Profissionais de saúde e pesquisadores tem produzido muitos estudos para tentar desvendar cada vez mais a correlação entre os hábitos de vida e doenças mentais. Nessa linha, uma pesquisa publicada na revista científica Nutritional Neuroscience ((https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/1028415X.2024.2355603)) indica que uma alimentação com baixo nível de nutrientes pode gerar modificações no cérebro que contribuem para casos de:
.Ansiedade
.Depressão
“Esse estudo mostrou alterações nos neurotransmissores e no volume de massa cinzenta em pessoas que têm uma dieta pobre, em comparação com aquelas que aderem a uma dieta de estilo mediterrâneo, que é considerada muito saudável”, diz a nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
A pesquisa analisou a estrutura cerebral e as reações químicas do cérebro em função da qualidade dos alimentos ingeridos.
‘’Os pesquisadores também descobriram que essas alterações estão associadas à ruminação mental (cadeia de pensamentos repetitivos de caráter negativo), parte dos critérios diagnósticos para condições que afetam a saúde mental, como depressão e ansiedade. Quando alguém segue uma dieta de má qualidade, há redução do ácido gama-aminobutírico (GABA) e aumento do glutamato, ambos neurotransmissores, juntamente com redução do volume de massa cinzenta na área frontal do cérebro. Os neurotransmissores têm atividade excitatória ou inibitória e quando há um descompasso nesses efeitos, há uma maior predisposição a problemas como tristeza e ansiedade”, afirma a médica.
O GABA é o principal neurotransmissor inibitório do sistema nervoso central e atua como uma espécie de ‘’freio’’ para conter impulsos nervosos. Já a atividade que pode levar ao gatilho destes impulsos tem ligação com o glutamato, o que pode explicar a relação entre a dieta e as sensações mentais.
“É interessante pontuar que isso pode criar uma relação circular perigosa, predispondo a obesidade e depressão, além de dificultar o tratamento dessas condições. Muitos trabalhos já mostraram que o GABA e o glutamato também estão intimamente envolvidos no apetite e na ingestão de alimentos. A redução do GABA e/ou o aumento do glutamato também podem ser um fator determinante na tomada de escolhas alimentares pouco saudáveis”, aponta a nutróloga.
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Influência da alimentação
O estudo também indica um desequilíbrio na neurotransmissão cerebral e diminuição da massa cinzenta no cérebro das pessoas que abusam de:
.Açúcar
.Gordura saturada
“Esta parte do cérebro está envolvida em problemas de saúde mental, como depressão e ansiedade. É possível que a obesidade e os padrões alimentares ricos em gorduras saturadas causem alterações no metabolismo e na neurotransmissão do glutamato e do GABA, como foi demonstrado anteriormente em estudos com animais”, afirma a especialista.
Uma alimentação diária exagerada em gorduras saturadas e açúcares pode ainda afetar o microbioma do intestino.
“Também foi demonstrado que uma dieta rica em gordura saturada e açúcar reduz o número de interneurônios de parvalbumina, que desempenham a função de fornecer GABA onde ele é necessário. Além disso, dietas pouco saudáveis também têm impacto sobre a glicose, aumentando a glicemia e a insulina. Isto aumenta o glutamato no cérebro e no plasma, reduzindo assim a produção e liberação de GABA”, comenta a nutróloga.
Veja ainda:
https://marcioatalla.com.br/nutricao/gordura-na-dose-certa/
Importância da orientação
A liberação de neurotransmissores cerebrais pode sofrer modificação por causa das alterações em algumas membranas das células, provocadas por dietas com excesso de gordura e colesterol.
“Estas alterações na química cerebral podem levar a alterações no volume da massa cinzenta do cérebro, como observado neste estudo’’, aponta a dra. Marcella.
E a especialista finaliza com uma importante recomendação:
‘’Portanto, as escolhas alimentares devem ser bem conduzidas, por isso a procura por um médico nutrólogo é fundamental também em tratamentos de depressão e ansiedade, quando o profissional de saúde mental nota que a alimentação saudável é deixada de lado”.
Contamos com a colaboração da Holding Comunicações e da médica:Dra. Marcella Garcez/Nutróloga
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