Vida e Saúde

Nomofobia: a dependência do celular

Uso excessivo do aparelho pode ser um sintoma de ansiedade ou depressão

Você é daqueles que não pode viver sem o celular? Quando  sai de casa e descobre na rua que esqueceu o aparelho fica ansioso,estressado e profundamente irritado?Tem a sensação de que está faltando  ‘‘uma parte do corpo’’? Cuidado…você pode estar com nomofobia!

Pois é,talvez você não saiba,mas o uso  excessivo do telefone celular vem sendo avaliado  por médicos, cientistas e pesquisadores que estudam possíveis  males que  o abuso da utilização do celular poderia provocar à saúde mental. E a isso se dá o nome de nomofobia.

Uma pesquisa realizada  na Inglaterra  pela Global Web Index (GWI).revelou que o usuário médio passa cerca de 3 horas e 39 minutos por dia ‘’colado’’ ao telefone móvel. Já outro estudo na Penn State University, nos Estados Unidos,mostra que as pessoas olham  mais o aparelho quando ele está em modo silencioso.E dependendo do histórico pessoal de cada um,isso pode  estar ligado a  problemas mentais e emocionais.

Para entender o que é a nomofobia e como se precaver, continue lendo esta matéria!

O que é nomofobia?

Mas qual a origem desse nome,’’nomofobia’’? O termo “nomofobia” vem do inglês “mobile phobia”,e se refere  à uma obsessão pelo celular ou pelo computador com acesso à internet, na qual a  pessoa, ao  ficar longe  deste tipo de dispositivo eletrônico,pode gerar em si mesma um processo de  desconforto emocional.

Cientistas estrangeiros  vem se debruçando sobre o tema,pesquisando os efeitos que esta ‘’fobia de ficar sem o celular’’ vem provocando nas pessoas. Alguns estudos iniciais já apontaram que essa dependência pode estar ligada ao  estresse, ansiedade e depressão.

Um estudo feito na Grã-Bretanha pela  Global Web Index (GWI), empresa que analisa audiência nas mídias e segmentação de público, revelou que o usuário de telefone celular passa 3 horas e 39 minutos em média por dia utilizando o aparelho.

Mas esse seria um número de horas comum nos dias de hoje ou exagerado?Quem responde é a psiquiatra Maria Francisca Mauro, mestre em Psiquiatria pelo PROPSAM/IPUB/UFRJ e integrante da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP):

‘’Se 3 horas e 39 minutos é um índice alto ou baixo, depende da aplicabilidade que esta pessoa tem do celular, pois ainda não temos escores padronizados em termos de tempo de uso como indicativo de prejuízos na relação com celular. O que se observa, em grande parte e em especial clinicamente, é como que a pessoa distribui o seu tempo no uso do celular, pois tem pessoas que têm atividades acadêmicas, de aprendizado, ou mesmo de trabalho, que estão relacionadas ao uso do celular e dele como meio de exercício da sua atividade. Então, tudo isso vai depender da forma de utilização’’.

O fato é que muitas pessoas vem tentando, por vontade própria ou orientação médica, diminuir o tempo de uso do celular,muitas vezes deixando o aparelho desligado ou no modo silencioso. Mas isso pode ter um efeito negativo. Uma pesquisa feita pela  Penn State University, nos Estados Unidos,com cerca de 138 usuários de celular,mostra que eles passavam a checar mais o aparelho,para ver se houve alguma mensagem ou ligação, quando este se encontrava no silencioso.

O estudo indicou que quando o celular estava totalmente ativo, as pessoas checavam o dispositivo 53 vezes por dia, em média.

Com o aparelho no modo silencioso,este número quase dobrou,passando para 98 checagens por dia.

 

Leia também:

https://marcioatalla.com.br/vida-e-saude/aqui-estao-os-5-motivos-para-voce-desistir-do-celular-pelo-menos-2-horas-antes-de-dormir/

 

Usar demais o celular é um vício?

Mas apesar destes estudos e do uso gigantesco deste aparelho na vida das pessoas hoje em dia, as pesquisas sobre nomofobia ainda estão numa fase bem inicial. Será que já se pode falar então em ‘’vício de celular’’?

‘’Dentro dos critérios de avaliação psiquiátrica ainda não temos uma classificação que configure o vício. Em pesquisas, avaliações e evidências o termo mais utilizado é o uso problemático do celular,que não pode ser configurado como um vício, pois ainda precisa-se de mais indícios científicos, de comprovação de efeitos, como efeito de tolerância, ou seja, em que a pessoa precisa usar cada vez mais o celular para obter os mesmos efeitos, sintomas de abstinência mental e física’’,esclarece a psiquiatra Maria Francisca Mauro.

E acrescenta:

‘’ O que sabemos é que essas pessoas têm no uso do aparelho uma forma de manejar algumas emoções, seja para se sentirem menos entediadas e sozinhas, ou um sentimento de que estão inseridas socialmente através de interações nas redes, como se aquilo fosse uma medida de valor social. Precisamos também ficar atentos em como essas atitudes podem se associar com outros comportamentos, como vícios em jogos e compras online”.

Mas pessoas que tem esse comportamento, podem ser mais facilmente atingidas por doenças como ansiedade ou síndrome do pânico ?

‘’Não podemos fazer essa associação de que a pessoa que tem um uso problemático de celular vai desencadear nela um quadro de ansiedade ou mesmo um episódio agudo de ansiedade que seria um quadro de pânico. O que observamos é o caminho inverso: pessoas que têm uma maior ansiedade, ou seja, são pessoas que são mais inquietas e têm um humor mais ansioso no sentido de expectativa e urgência podem estar mais suscetíveis a esse comportamento. O uso problemático do celular não vai potencializar problemas emocionais, mas ele pode estar sendo influenciado por quadros emocionais descompensados, como quadro de depressão e ansiedade’’,relata a psiquiatra.

 

Veja ainda:

https://marcioatalla.com.br/vida-e-saude/facebook-vicia-tanto-quanto-a-cocaina/

Como diminuir a dependência do celular?

O Brasil já é o 5º país do mundo em número de usuários de telefonia móvel,com um uso muito difundido em relação à população mais jovem. De vez em quando surgem casos terríveis noticiados na imprensa, de criminosos  que usam o celular para tentar influenciar  crianças,adolescentes e jovens a praticarem atos violentos como  automutilações,assassinatos ou suicídio. Como pais e mães podem se precaver disso e proteger os filhos?

‘’Existem vários casos, em especial de redes sociais, que se tornaram mais recentes, casos no Tik Tok, de padrões de comportamento auto destrutivo. E a principal forma de pensamento que os pais de crianças e adolescentes precisam ter, é prestar atenção na idade que vão disponibilizar um celular para o seus filhos, no controle de programas, de acesso e de verificação de quais aplicativos e de quais plataformas eles vão deixar seus filhos acessem. É preciso impor limites’’,reforça a dra.Maria Fransisca Mauro.

O uso excessivo celular pode ser uma espécie de ”muleta emocional” para quem tem problemas de relacionamento interpessoal e se isola através do uso do aparelho?

‘’Algumas pessoas podem sim se apoiar no celular, por serem mais tímidas ou por não quererem conversar em algumas situações sociais ou mesmo diminuir ali a sua interação social ou se elas têm um quadro patológico, uma fobia social ou algum temperamento que as faz serem mais só introspectivas. É importante, especialmente os mais jovens, aprenderem a ter uma certa etiqueta no uso do celular,  quando vamos,por exemplo, sentar à mesa e fazer refeições, assistir aulas,palestras e outros  cenários sociais onde precisamos ter um contato visual, um contato de uma conversa’’,diz a médica.

 

E a psiquiatra finaliza dando algumas  dicas para se evitar o uso problemático do celular:

 “ É preciso compreender quantas horas por dia você está consumindo conteúdo em seu aparelho. Necessário se faz entender que ele não é uma companhia para você e seu uso não abre mão de que se dedique à atividades como o  trabalho e a parte acadêmica. Outro ponto importante é observar o que você tem feito com o seu relacionamento interpessoal para que ele não seja ultrapassado por alguma interação via jogos, consumo de mídias sociais e outro elementos. Vale ressaltar que não é recomendado utilizar o aparelho de uma a duas horas antes de dormir devido à luminosidade, às informações e a gatilhos emocionais que podem dificultar o sono”.

Contamos com a colaboração da DATZ Comunicação e da Médica:

Maria Francisca Mauro/Psiquiatra

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