Diminuir o consumo de carboidratos tem sido quase um ‘’mantra’’ repetido por muita gente que busca perder peso, numa época em que são divulgadas (principalmente nas redes sociais) dietas nem sempre balanceadas que propõe o corte desse nutriente, com a contrapartida do alto consumo de gorduras.
São as chamadas dietas ‘’low carb’’ (com baixa ingestão de carboidratos) e ‘’high fat’’ (com alto consumo de gordura). Só que os carboidratos são uma das principais fontes de energia do corpo e a redução drástica desse componente pode levar a alterações no metabolismo. Já a gordura em excesso pode gerar complicações como:
.Obesidade e sobrepeso
.Aumento do colesterol
.Aumento do risco de infarto
.Aumento do risco de AVC
.Sobrecarga nas articulações
E agora um estudo científico indica que uma alimentação com excesso de gorduras pode ter um impacto negativo nos genes do organismo.
Quer saber mais? Então leia esta reportagem até o final!
A pesquisa foi feita por cientistas da Universidade da Califórnia-Riverside, nos EUA e publicada na conceituada revista científica Nature (( https://www.nature.com/articles/s41598-023-49555-7)).
Os pesquisadores alimentaram grupos de os ratos durante 24 semanas com 3 dietas diferentes:
.Uma com gordura saturada de óleo de coco
.Uma com óleo de soja modificado monoinsaturado
.Uma com óleo de soja não modificado poli-insaturado
As gorduras representaram 40% das calorias de todas as dietas.
“Os pesquisadores analisaram não apenas o microbioma, mas também as alterações genéticas nas 4 partes do intestino dos ratos. Em comparação com uma dieta de controle com baixo teor de gordura, todos os 3 grupos experimentaram alterações preocupantes na expressão genética”, afirma a endocrinologista Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
O estudo indicou alterações nos genes relacionados ao metabolismo da gordura e nas bactérias do intestino.
“Foi observado um aumento de E. coli patogênica e uma supressão de Bacteroides, que ajudam a proteger o corpo contra agentes patogênicos”, esclarece a médica.
A pesquisa indicou ainda mudanças preocupantes nos genes que identificam bactérias que causam infecções e também nos genes que ajudam a combater inflamações.
“Essas dietas prejudicam os genes do sistema imunológico do hospedeiro e também criam um ambiente no qual bactérias intestinais nocivas podem prosperar. As descobertas são preocupantes, uma vez que o óleo de soja é o óleo mais consumido no Brasil e Estados Unidos e é cada vez mais utilizado em outros países, incluindo China e Índia. Já o óleo de coco vem sendo tratado, cada vez mais, como um superalimento, com efeito milagroso, o que não é verdade”, alerta a endocrinologista.
Os resultados do estudo apontam para um impacto negativo nos genes ligados à:
.Obesidade
.Câncer do cólon
.Intestino irritável
.Sistema imunológico
.Função cerebral.
As pesquisas até agora foram feitas somente em ratos, mas já é possível projetar uma perspectiva quando começarem as análises em humanos.
‘’Acreditamos que a chance de dar um resultado não idêntico, mas muito parecido, é muito grande, até porque a carga genética é funcional, gira em torno de 97, 98% quando comparamos rato com humano. Então acreditamos que as dietas ricas em gorduras vão aumentar o sobrepeso e o risco cardiovascular dos pacientes’’, comenta a dra. Deborah.
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Mas quando se fala em dieta rica em gorduras é preciso entender melhor quais são os tipos de gorduras.
‘’Quando falamos em dieta rica em gordura, nós falamos em dieta rica em qualquer tipo e fonte de gordura, tanto faz gordura saturada ou não, tanto faz gordura de origem vegetal ou de origem animal. Quando a gente compara essas gorduras, a gente sabe que a diferença vai ser que a gordura de origem animal aumenta o colesterol e a gordura de origem vegetal, tende a diminuir o colesterol ruim, que é o LDL e melhorar o colesterol bom, que é o HDL. Mas em relação ao valor calórico total, a gordura é muito mais calórica que o carboidrato’’, fala a endocrinologista.
E é importante também saber quais são as gorduras que mais podem causar males à saúde:
‘’As piores gorduras são as gorduras saturadas, que aumentam o nível de colesterol e as gorduras trans, que também aumentam o colesterol. Além disso, a gordura trans faz um processo inflamatório muito nocivo para o corpo como um todo. A gordura saturada tem muita relação com a gordura de origem animal e a gordura trans tem muita relação com a indústria alimentícia, que são os alimentos industrializados’’, explica a dra. Deborah Beranger.
Já as gorduras mais recomendadas para o consumo são as monoinsaturadas, como o Ômega 9, que são encontradas em alimentos como:
.Salmão
.Azeite
.Abacate
.Castanha
.Nozes
.Amendoim
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E neste contexto, as dietas low carb deveriam ser evitadas ou não?
‘’Os últimos estudos apontam que a dieta pobre em carboidrato é uma faca de dois gumes. Porque as vezes as pessoas diminuem muito o carboidrato e fazem uma dieta mais rica em fontes de proteína que tem muito mais gordura e o valor calórico total dessa dieta fica muito maior. Fora que acaba ingerindo muito vezes mais gordura saturada e aumentando o colesterol, o que também aumenta o risco cardiovascular’’, diz a médica.
E prossegue a especialista:
‘’Então mesmo que você faça uma dieta de baixo carboidrato, essas gorduras ingeridas devem ser mais saudáveis, de origem vegetal e em uma quantidade adequada para, no valor calórico total do dia, o paciente perder peso’’.
E existe algum risco à saúde?
‘’Os pacientes que são atletas têm um gasto calórico muito alto e normalmente não devem fazer dieta de baixo carboidrato. E os pacientes diabéticos devem evitar dieta de baixo carboidrato principalmente aqueles que estão em uso de insulina, porque há risco de você fazer uma hipoglicemia muito maior’’, acrescenta a endocrinologista.
E a dra. Debora finaliza com um aviso importante:
“É necessária alguma gordura na dieta, talvez 10% a 15%. Porém, a maioria das pessoas abusa desse consumo e o boom das dietas low carb/high fat sem indicação especializada de médico e nutricionista, está a produzir efeitos adversos na população. Temos que tomar muito cuidado com a mensagem que coloca o carboidrato como um vilão. A gente precisa desmistificar isso, lembrar que o tratamento de cada paciente tem que ser individualizado’’.
Contamos com a colaboração da Holding Comunicações e da médica: Dra. Deborah Beranger/Endocrinologista
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