Filtros e ângulos para fotos no Instagram mudam percepções da aparência e influenciam até cirurgias.
Durante o isolamento social, sofremos alterações importantes na rotina, principalmente com relação às atividades fora de casa.
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E o grande perigo é a sobrecarga no uso das redes sociais. Isso por que quem nasceu entre 1982 e 2004 é reconhecido socialmente como um millennial, uma geração quase que 100% digital e que vive se moldando às transformações do mundo, que saiu do computador e migrou majoritariamente para os ambientes das mídias sociais. “E, com isso, veio também a paixão pelos aplicativos de fotos, como o Instagram e Snapchat. Mas toda vez que tiramos uma selfie, devemos levar em conta a forma como ela é tirada, uma vez que os diferentes ângulos podem distorcer a imagem real. E é exatamente isso que tem acelerado a busca de pacientes cada vez mais jovens por procedimentos estéticos”, diz o Dr. Paolo Rubez, cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica. No começo do ano passado, artigo publicado no Journal of The American Society of Plastic Surgeons destaca que muitos pacientes millennials procuram procedimentos cirúrgicos para parecer com sua versão “aprimorada” após o uso do filtro, o que foi chamado de Dismofia Snapchat ou Dismorfia Instagram. “O alerta é ainda mais importante agora, em que as pessoas passam mais tempo nas redes sociais por terem suas rotinas afetadas, e muitas delas buscam postar a ‘selfie perfeita’ para conquistar novos seguidores”, acrescenta o médico.
De acordo com o cirurgião plástico Dr. Paolo Rubez, mesmo antes da pandemia, a autoexposição online levava, cada vez mais, a geração de millennials a procurar cirurgia estética em idades mais jovens do que as anteriormente vistas. “O fenômeno das selfies fez aumentar tanto as cirurgias quanto os procedimentos estéticos não cirúrgicos”, afirma o médico. “Com as mídias digitais e as selfies, as pessoas estão o tempo todo se autoavaliando e procurando ‘defeitos’ para que possam melhorar. Elas querem se tornar mais bonitas para ficarem melhor nas fotos e postarem em suas mídias. Assim como veem as celebridades e os influencers divulgando um tratamento e procuram pelo procedimento oferecido”, acrescenta o cirurgião plástico.
Mas qual é a explicação para essa mudança de percepção entre o que é visto no espelho e o que é observado na selfie? A primeira tem a ver com os filtros utilizados, uma vez que eles corrigem o tom de pele e minimizam pequenas imperfeições. “Além dos filtros, os ângulos de câmera são um grande fator que afeta a maneira como nos observamos nas fotos. Se a lente da câmera estiver muito próxima do nariz, por exemplo, ele ficará maior na foto do que na vida real. Se sua câmera estiver inclinada abaixo do seu rosto, a foto mostrará partes do seu rosto que você não vê necessariamente ao olhar diretamente. E se você for fotografado embaixo de uma fonte de luz, ao lado da luz, ele lançará sombras em seu rosto e corpo”, diz o médico.
Segundo o Dr. Paolo, quanto mais próximo do corpo a câmera estiver, mais ela irá deformar a imagem. “Além disso, as fotos não correspondem exatamente como os outros nos vêem, pois elas retratam um momento específico, sem movimentos, como é na vida real”, diz o médico. E, por fim, a luz e o ângulo da foto podem mudar completamente a imagem final. “Isto já é muito conhecido entre os fotógrafos e mais atualmente, com o fenômeno das selfies e mídias sociais, as pessoas também estão com esta percepção e procuram usar estas características para conseguir a melhor foto possível. Vemos o tempo todo pessoas tirando fotos em diferentes ângulos, sob diferentes condições de luz, e avaliando qual delas fica melhor para postar. Além disto, o uso de aplicativos de edição de fotos também permite mudanças em áreas do corpo que não gostamos muito. A soma destes fatores faz com que as pessoas procurem cada vez mais se aproximarem do que julgam perfeito”, explica o cirurgião plástico.
Com relação aos que buscam procedimentos estéticos, o Dr. Paolo Rubez analisa que eles são cada vez mais específicos com relação ao que querem mudar. “Com as selfies, as pessoas estão mais focadas em detalhes do rosto e do corpo e têm inclusive uma noção estética apurada. Com isto, elas procuram tratamentos para detalhes que observam nas fotos, que antes não eram tão valorizados porque as pessoas não se viam o tempo todo nas imagens”, afirma. “Como a percepção estética está mais apurada, pelas próprias informações técnicas que encontram nas mídias sociais, as pessoas se tornaram mais exigentes com relação aos resultados. Por isso, é muito importante trabalhar bem as expectativas de cada paciente para que não haja frustrações caso o tratamento não atinja o desejo do paciente”, completa o cirurgião.
Apesar da antecipação dos procedimentos e ser responsável pela implacável busca pela perfeição da aparência, o fenômeno das mídias digitais também tem seu lado bom, que é o do autocuidado – quando ele não é exagerado. “Não há problema em relação ao tempo em que se inicia os tratamentos. Pelo contrário, o quanto antes as pessoas começam a se cuidar, elas tendem a envelhecer melhor. No entanto é preciso que isto seja feito com cautela para se evitar exageros e artificialidade. O objetivo dos tratamentos deve ser tornar cada um o mais belo possível dentro de suas características e de forma natural”, diz o médico.
Com relação à pandemia, é prudente observar, segundo o médico, se esse excesso nas redes sociais não tem a ver com a ansiedade. “Esse também é um momento de estar mais junto com a família e de realizar novas atividades. É importante que as pessoas criem rotinas e tarefas ao longo do dia, como horário para acordar, para dormir e trabalhar, mesmo que em home office. Além disto, é fundamental a prática de alguma atividade física, mesmo em casa, pois isto gera a liberação de neurotransmissores responsáveis pelo bem-estar. E também vale a pena usar a técnica da meditação, que pode ser feita até com ajuda do celular. Hoje existem vários aplicativos, mesmo grátis, que ensinam técnicas de meditação e ajudam a inseri-la na rotina de qualquer pessoa”, finaliza o médico.
Por: PAOLO RUBEZ
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