Estudo publicado em janeiro na revista médica The BMJ está em conformidade com a Medicina do Estilo de Vida, nova abordagem médica que visa estimular o paciente a mudar seus hábitos para conquistar uma vida mais saudável.
Apesar da expectativa de vida da população mundial ter aumentado substancialmente nas últimas décadas graças aos avanços na tecnologia e medicina, pessoas mais velhas possuem maiores chances de sofrer com doenças cardiovasculares, diabetes e câncer.
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“Tais doenças figuram entre as principais causas de morte em todo mundo. Logo, pessoas que sofrem com essas condições tendem a ter de 7 a 20 anos a menos de tempo de vida em comparação a indivíduos saudáveis”, explica a Dra. Marcella Garcez, médica nutróloga e professora da Associação Brasileira de Nutrologia. Sabe-se que hábitos de vida, como tabagismo, ingestão de álcool e alimentação, possuem um grande impacto na incidência dessas doenças e, consequentemente, na expectativa de vida de um indivíduo. A fim de aprofundar ainda mais essa discussão, um estudo publicado em janeiro desse ano na revista médica The BMJ decidiu examinar de que forma um estilo de vida saudável está relacionado a uma maior expectativa de vida livre de doenças crônicas graves.
Para isso, os pesquisadores analisaram os hábitos de vida de indivíduos que compuseram dois outros estudos anteriores, feitos através de questionários sobre histórico médico e estilo de vida.
Um desses estudos durou 34 anos e acompanhou 121.700 enfermeiras com idades entre 30 e 55 anos. O outro, que durou 28 anos, incluiu 51.529 profissionais da saúde do sexo masculino com idades entre 40 e 75 anos. A partir disso, os estudiosos definiram uma pontuação de estilo de vida baseada em cinco hábitos: dieta, tabagismo, prática de atividade física, consumo de álcool e índice de massa corporal. Para cada hábito de vida de baixo risco, o participante recebeu um ponto, resultando em uma pontuação final com variação de 0 a 5, sendo a pontuação mais alta conferida aqueles indivíduos que possuíam o estilo de vida mais saudável. Em seguida, os pesquisadores observaram quais desses pacientes desenvolveram doenças crônicas ou vieram a óbito.
A partir disso, os pesquisadores concluíram que as mulheres sem hábitos saudáveis, aos 50 anos, possuíam expectativa de vida livre de diabetes, câncer e doenças cardiovasculares de 23.7 anos. Em comparação, as mulheres que pontuaram 4 ou 5 no que diz respeito aos hábitos saudáveis possuíam 10.7 anos a mais de vida sem apresentar nenhuma das doenças citadas. Já com relação aos homens na mesma faixa etária, aqueles que não tinham hábitos saudáveis apresentaram uma expectativa de vida sem doenças crônicas de 23.5 anos em comparação aos 31.1 anos dos homens que possuíam bons hábitos. “Com base no estudo, pode-se afirmar então que a adesão a um estilo de vida saudável na meia-idade está associada a um menor risco de câncer, doenças cardiovasculares e diabetes, além de um aumento na expectativa de vida total e do número de anos livre dessas doenças”, destaca a Dra. Marcella Garcez. “Apesar de conter limitações, com mais pesquisas nesse campo sendo necessárias, o estudo mostra-se importante não apenas para a área médica, mas também para ajudar na promoção de políticas públicas que estimulem a população a buscar hábitos de vida mais saudáveis.”
É interessante notar também que esse estudo acompanha uma nova tendência da área médica que propõe uma maneira diferente de se enxergar o paciente e de se abordar a prevenção e o tratamento de doenças: a Medicina do Estilo de Vida. “Ganhando cada vez mais espaço em hospitais e consultórios médicos no Brasil e no mundo, a Medicina do Estilo de Vida tem como finalidade cuidar do paciente de forma global, mudando seus hábitos para ajudar a prevenir e tratar doenças. Ou seja, a Medicina do Estilo de Vida é uma maneira de fornecer ao paciente ferramentas para a mudança de seus hábitos”, explica a cirurgiã plástica Dra. Beatriz Lassance, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e da ISAPS (International Society of Aesthetic Plastic Surgery).
De acordo com a angiologista Dra. Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular, a Medicina do Estilo de Vida é baseada em seis pilares — alimentação, controle do stress, prática de atividade física, cessação do tabagismo, qualidade de sono e relações interpessoais — e não atua apenas na prevenção das doenças, mas também no tratamento. “Sabe-se que com mudanças de estilo de vida é possível não apenas prevenir, mas também reverter grande parte das doenças. E isso em qualquer idade, pois é cientificamente comprovado que até mesmo octogenários podem se beneficiar de mudanças no estilo de vida”, afirma a angiologista.
E não é preciso esperar a consulta com o médico para começar a mudar seus hábitos. Basta adotar alguns cuidados no seu dia-a-dia, como alimentar-se corretamente. “Dietas restritivas são difíceis de manter por muito tempo. Por isso, preocupe-se mais com o que você coloca no prato do que com o que retira dele. Adote uma alimentação de base vegetal, diminuindo o consumo de proteína animal e produtos industrializados. Vegetais devem compor 75% do prato. A comida deve ser equilibrada, gostosa e feita com ingredientes saudáveis”, recomenda a Dra. Marcella Garcez.
Evitar fumar, manter o estresse e o peso sobre controle e dormir bem também são cuidados fundamentais para uma vida melhor e mais saudável. “E, claro, não se esqueça de praticar exercícios regularmente, já que é comprovado que a atividade física pode prevenir uma infinidade de doenças e até reverter casos de diabetes tipo II, hipertensão e depressão. O ideal então é realizar semanalmente 150 minutos de exercícios físicos de intensidade moderada. Mas qualquer atividade já pode trazer benefícios, como aumentar o número de passos por dia e subir escadas”, finaliza a Dra. Beatriz Lassance.
FONTES:
Dra. Marcella Garcez
Dra. Aline Lamaita
Dra. Beatriz Lassance
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