Mães podem envelhecer de 3 a 5 anos após o parto. A saúde do sono é tão vital para a saúde geral quanto a dieta e os exercícios.
Dar à luz a uma nova vida é um dos momentos mais sublimes para a mulher. A vida dela muda e ela passa a viver o que muitos especialistas em psicologia chamam de ‘’amor incondicional’, aquela sensação de ser responsável por um filho ou filha que irá gerar o sentimento de maternidade para o restante de sua existência.
Mas mesmo um momento tão importante na vida da maioria das mulheres, pode trazer alguns riscos. É comum, por exemplo, nos primeiros meses principalmente, a mãe perder horas e até noites de sono em função dos cuidados que são necessários no início da vida do bebê. Além da amamentação, qualquer choro da criança já é motivo para a mãe acordar e não dormir mais.
Pois uma pesquisa da Universidade da Califórnia e publicada na revista americana
‘’Sleep Health’’, revela que mães que dormiam pouco após o parto
tinham um processo de envelhecimento biológico acelerado. O estudo usou os mais recentes métodos científicos de análise de mudanças no DNA para avaliar o envelhecimento biológico, também conhecido como envelhecimento epigenético e foi feito em mulheres entre 23 e 45 anos, seis meses após o parto.
O estudo se refere à:
.Mães que deram à luz a menos de 1 ano
.Mães que dormiam menos de 7 horas por dia
.Mães que envelheceram de 3 a 7 anos
.Mães que tinham telômeros mais curtos
O estudo feito nos EUA mostrou algo que chamou a atenção dos cientistas em relação ao DNA destas mães que tiveram filhos recentemente. É o que explica a médica nutróloga Marcella Garcez, “os pesquisadores descobriram que um ano após o parto, a idade biológica das mães que dormiam menos de sete horas por noite, na marca dos seis meses, era de três a sete anos mais velha do que aquelas que dormiam sete horas ou mais.’’
Ainda segundo a dra. Marcella, que é professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN, estes pesquisadores ‘’analisaram o DNA das mulheres em amostras de sangue para determinar sua idade biológica, que pode diferir da idade cronológica. O papel do sono na saúde metabólica das pessoas vem sendo objeto de estudo há anos. Quando há uma grave perturbação da ordem temporal, bioquímica, fisiológica e dos ritmos comportamentais, isso mexe também com a expressão de alguns genes que regulam nossas vias metabólicas e nossos hormônios. Muitos pacientes que enfrentam mudanças nesse ciclo não conseguem seguir um plano alimentar, têm maior carga de estresse e impulsos alimentares”.
Outro dado que chamou a atenção dos cientistas foi em relação aos telômeros, que são pedaços pequenos das moléculas de DNA, que se encontram nas s extremidades dos cromossomos. Os telômeros agem como uma espécie de capa de proteção ,da mesma forma, por exemplo, como aquele revestimento que encontramos nas pontas dos cadarços dos calçados. A função principal deles é garantir uma maior proteção ao material genético que é transportado pelos cromossomos.
O que ocorre é que com o tempo, as células se reproduzem para regenerar os tecidos do organismo, os telômeros ficam mais curtos e não conseguem mais dar proteção ao material genético, o que impede a reprodução das células, que passam a apresentar um processo de envelhecimento, atingindo toda a cadeia celular do organismo.
‘’As mães que dormiam menos de sete horas tinham telômeros mais curtos nas células brancas (leucócitos) do sangue. Há influência genética para o encurtamento mais rápido dos telômeros, mas isso também ocorre em situações de grande estresse e de privação de sono, conforme demonstrado no estudo. Atualmente, sabemos que telômeros encurtados têm sido associados a um risco maior de câncer, doenças cardiovasculares, envelhecimento precoce e outras doenças, além de morte”, afirma o geneticista Marcelo Sady, pós-doutor em genética pela UNESP e consultor científico da empresa Multigene.
A pesquisa da Universidade da Califórnia indica que entre 6 meses a 1 ano após o parto, mais da metade das mães dormiram menos de 7 horas por noite.
“A saúde do sono é tão vital para a saúde geral quanto a dieta e os exercícios”, diz a dra. Marcella.
O médico geriatra, Juliano Burckhardt, integrante da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia e a International Colleges for Advancement of Nutrology, acrescenta, ‘’dormir bem é muito importante para envelhecer com saúde, já que é durante o sono que o organismo passa por um processo de reparação e regeneração. O recomendado é dormir entre 7 e 8 horas por noite. Fugir desses valores é colocar a saúde em risco, pois já temos evidências que a falta de sono pode prejudicar o coração e o cérebro e diminuir a longevidade”.
A dr.a Marcella Garcez complementa, que ‘’os primeiros meses de privação de sono pós-parto podem ter um efeito duradouro na saúde física, pois já se sabe por um grande número de pesquisas que dormir menos de 7 horas por noite é prejudicial à saúde e aumenta o risco de doenças relacionadas à idade”.
Mas então o que as mães devem fazer neste momento pós-parto para evitar a degeneração das células e o envelhecimento precoce? O estudo aponta alguns aconselhamentos:
.Aproveitar qualquer oportunidade para dormir um pouco mais
.Cochilar durante o dia quando bebê estiver dormindo
.Pedir ajuda ao pai da criança para alternas os cuidados da criança
.Solicitar auxílio à parentes ou amigos
A boa notícia é , que embora a perda de sono pós-parto possa acelerar o envelhecimento e trazer risco à saúde das mulheres, não há indícios definitivos de que isso seja permanente.
‘’Ainda não se sabe se esses efeitos são irreversíveis, uma vez que a adoção de bons hábitos pode ajudar a frear riscos à saúde”, explica a dra. Marcella.
Ela elenca também algumas dicas para melhorar a alimentação e o processo do sono pós-parto.
.Adotar uma alimentação balanceada
.Comer fibras, frutas, vegetais, legumes e proteínas magras
.Beber bastante água
.Diminuir o consumo de sal
.Ingerir menos açúcar
.Reduzir a ingestão de gorduras saturadas
‘’O estudo é importante para determinar um caminho e mais pesquisas são necessárias para entender melhor o impacto a longo prazo da perda de sono nas novas mães, quais outros fatores podem contribuir para a perda de sono e se os efeitos do envelhecimento biológico são permanentes ou reversíveis”, conclui a dra. Marcella.
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