Entenda o que são os ciclos circadianos e como eles mexem com seu organismo
Você já deve ter ouvido a expressão ‘’relógio biológico’’ alguma vez na vida não é mesmo? Pois saiba que este termo não é apenas uma figura retórica. O tal relógio, ou melhor, relógios biológicos existem mesmo e são chamados na linguagem médica de ciclos circadianos e podem influenciar:
.A alimentação
.O sono
.O estresse
.Os rins
.A pele
.A reprodução humana
Quer saber como funcionam os seus relógios internos e como isso pode mexer com o seu bem-estar? Então é só seguir lendo este texto até o final!
Para entender como funcionam os relógios biológicos do corpo humano é preciso antes saber o que são os ciclos circadianos. Quem nos explica é a endocrinologista Deborah Beranger, pós-graduada em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ).
“Na verdade, a maioria de nossas funções fisiológicas é governada por um número incontável de relógios biológicos internos cuidadosamente sincronizados, cada um completando um ciclo a cada 24 horas. Esses ciclos são conhecidos como ritmos circadianos. Uma dessincronização do tique-taque interno pode gerar problemas de diversas formas no organismo, com sintomas leves instantâneos e graves a longo prazo”.
Geralmente as pessoas reconhecem um ciclo circadiano muito familiar que é o ciclo do sono, ou seja, o processo de dormir e acordar diariamente.
Na década de 70 do século passado, pesquisadores descobriram que esse ciclo é comandado por uma área no hipotálamo do cérebro chamada núcleo supraquiasmático. “Essa estrutura coordena a liberação de hormônios, entre eles a dopamina, que diminuem a temperatura corporal e a pressão arterial e nos fazem sentir sono à noite. Pela manhã, o cortisol, o famoso hormônio do estresse e outros hormônios restauram nosso estado de alerta, nos aquecem e aumentam a pressão arterial. Nas últimas duas décadas, no entanto, os pesquisadores descobriram que o relógio no cérebro não é de forma alguma o único em nosso corpo”, acrescenta a endocrinologista.
Desse estudo pioneiro surgiu a chamada Cronomedicina que passou a estudar as reações provocadas pelos diversos relógios biológicos.
“Há relógios celulares organizados e que estão presentes em diversos órgãos representando cada sistema fisiológico: há um relógio da pele, um do fígado, um do sistema imunológico, para o rim, coração, pulmões, músculos e até sistema reprodutivo. Cada um desses relógios sincroniza-se com o relógio central no cérebro como uma seção de orquestra seguindo seu maestro”, afirma a dra. Deborah.
Quando ocorre um desacerto interno o relógio biológico pode desequilibrar o funcionamento do corpo. Um dos exemplos mais conhecidos é o jet lag, que ocorre principalmente após longas viagens de avião com troca de fuso horário
“Esse é o tipo mais familiar de caos interno. Quando viajamos por vários fusos horários, nossos relógios centrais e periféricos se reajustam em taxas diferentes para corresponder ao novo meio ambiente, mas isso pode vir acompanhado de sintomas como insônia, exaustão e problemas estomacais e intestinais, lentidão e distração. Ficar acordado horas mais tarde no fim de semana do que durante a semana tem o mesmo efeito: isso foi apelidado de jet lag social’’, aponta a endocrinologista.
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Até o horário em que a pessoa faz suas refeições pode alterar para pior o funcionamento do relógio biológico.
‘’O fígado, por exemplo, é extremamente afinado para determinar quando acelerar o metabolismo com base em quando você come. Então, fica fácil entender que se você fizer isso no meio da noite, o fígado estará recebendo sinais contraditórios do cérebro, que está dizendo para descansar. Como resultado, quando o fígado começa a processar a comida da meia-noite, ele o fará com menos eficiência do que teria feito após uma refeição diurna e envia sinais conflitantes de volta ao cérebro e a outros sistemas orgânicos. Isso também prejudica o sono”, diz a médica Deborah Beranger.
E essa mexida no horário do sono pode desregular os níveis de saciedade, mexendo com os hormônios e favorecendo o aumento de peso.
“O termo cronodisrupção é muito importante e é uma alteração do padrão normal do nosso ciclo circadiano. Isso leva a várias alterações fisiológicas e metabólicas e está relacionado a vários distúrbios e doenças. Muitos pacientes que enfrentam mudanças nesse ciclo não conseguem seguir um plano alimentar, têm maior carga de estresse e impulsos alimentares”, complementa a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN).
Isso acontece pela perda da sincronia entre o relógio central do cérebro (regula o sono) e o relógio periférico do corpo (regula a digestão).
“O ideal é que ambos os relógios estejam sincronizados, já que o nosso organismo realiza um regime cuidadoso de processos metabólicos para se manter em equilíbrio”, afirma a nutróloga.
Até a tecnologia pode influenciar os ciclos circadianos. O núcleo supraquiasmático está diretamente ligado à retina e ao relógio cerebral, que é afetado pela luz solar ou luz artificial e isso pode mudar o entendimento do cérebro sobre quando é dia ou noite.
“A ampla exposição à luz brilhante à noite só foi possível nos últimos 100 anos. Até a invenção da eletricidade e das viagens aéreas, teria sido relativamente difícil tirar o relógio do cérebro do alinhamento com o sol”, diz a endocrinologista.
As possibilidades da vida moderna como o trabalho noturno, a falta de exposição ao sol, o uso excessivo de smartphones e aparelhos eletrônicos, uma vida desregrada com festas e noitadas, podem elevar o estresse, gerar casos de ansiedade e depressão e prejudicar o sono.
“O estresse é sem dúvida um grande vilão, quando as altas descargas de cortisol na corrente sanguínea nos mantêm em estado de alerta até mesmo durante a noite. Manter ritmos circadianos saudáveis no cérebro podem melhorar a duração e a qualidade do sono e um sono melhor se correlaciona com uma melhor função neural e um risco reduzido de doença de Alzheimer, que tem sido associada ao sono fragmentado”, diz a dra. Deborah.
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Uma das funções do organismo que mais correm risco de serem afetadas pela ‘’bagunça’’ nos ciclos circadianos e a perda de sono, é a função renal.
“Pesquisas mostram que dormir poucas horas por noite aumenta o risco de perda da função renal. Mulheres que dormem 5 horas ou menos por noite, por exemplo, têm um aumento de 65% de chances de sofrerem rápido declínio das funções renais se comparadas àquelas que dormem 7 ou 8 horas. As evidências sugerem que os distúrbios do sono afetam o desenvolvimento da doença renal”, explica a nefrologista Caroline Reigada, especialista em Nefrologia pelo Hospital das Clínicas da USP.
E rins doentes podem indicar problemas para o coração.
“Os rins, responsáveis por filtrar o sangue, podem sofrer consequências de doenças cardiovasculares. Por outro lado, as doenças renais também podem afetar o coração’’, diz a nefrologista.
A mexida no relógio biológico e as alterações no sono também podem interferir no sistema reprodutor.
“Dormir mal de maneira contínua pode interferir na fertilidade. O sono é fundamental para o bom funcionamento da hipófise, glândula presente no cérebro que é responsável pela produção de uma série de hormônios, inclusive daqueles responsáveis pela estimulação dos ovários e dos testículos’’, afirma o médico Rodrigo Rosa, especialista em reprodução humana e diretor clínico da Clínica Mater Prime, em São Paulo.
E além de tudo isso, relógios biológicos desalinhados podem atingir também a pele.
“Durante o sono ocorre um relaxamento muscular, que evita as rugas de expressão pela mímica facial durante o dia e a liberação de substâncias como o hormônio do crescimento (GH), que é responsável pelo desenvolvimento e renovação celular, inclusive das células de colágeno, que são fundamentais para a firmeza e viço da pele. Noites mal dormidas diminuem a produção de colágeno, liberam hormônios do estresse, como o cortisol, oxidando as células da pele e acelerando o processo de envelhecimento”, destaca a dermatologista Paola Pomerantzeff, da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD)
Para quem está tendo a pele afetada vale uma dica: use cosméticos que ajudem a manter a saúde da pele.
“O creme do dia necessita conter ativos que combatam principalmente os radicais livres gerados pela radiação solar, da luz visível, poluição e outros fatores. Ele precisa também fornecer energia às células. Já o creme da noite precisa ter ativos que potencializem a renovação celular, pois é durante o período da noite que as células estão mais aptas a se renovarem e absorverem os nutrientes”, explica farmacêutica Maria Eugênia Ayres, gerente científica da Biotec Dermocosméticos.
E para manter os relógios biológicos acertados e em bom funcionamento, é importante também ter bons hábitos de vida, tais como:
.Alimentação balanceada
.Praticar atividade física
.Diminuir o uso do celular e do computador
.Estar mais próximo à família e amigos
.Combater o estresse com lazer ,meditação ou terapia
Contamos com a colaboração da Holding Comunicações e dos profissionais de saúde:
Dra. Deborah Beranger/Endocrinologista
Dra. Marcella Garcez/ Nutróloga
Dra. Caroline Reigada/Nefrologista
Dr. Rodrigo Rosa/ Ginecologista e Obstetra
Dra. Paola Pomerantzeff/ Dermatologista
Maria Eugenia Ayres/Farmacêutica
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