Situação pode ser ainda pior para quem tenta compensar um período de alimentação farta com momentos de escassez
No decorrer da pandemia, apesar das constantes informações sobre a importância de manter a alimentação saudável, muitas pessoas acabaram optando por extremos na dieta – alguns comendo demais, outros de menos. “As alterações emocionais são as principais responsáveis pelos comportamentos alimentares equivocados nesses tempos de pandemias. Muitos buscam o conforto das suas emoções nos alimentos e bebidas, muitas vezes se encaminhando para consumos compulsivos. Outros, por insegurança e desinformação, restringem o consumo de grupos ou quantidades alimentares importantes para a manutenção da saúde no momento atípico”, afirma a médica nutróloga Dra. Marcella Garcez, professora e diretora da Associação Brasileira de Nutrologia (ABRAN). O problema é que esses extremos na alimentação causam alterações físicas e estéticas importantes, impactando agressivamente na beleza da pele. “A pele denuncia rapidamente quando um paciente se alimentou excessivamente de alimentos mais inflamatórios, com alterações como acne, manchas, irritações sinais de desidratação. E quem vai ao outro extremo, de escassez para emagrecer, também nota muitos sinais importantes de carência nutricional, como queda de cabelo, ressecamento, unhas quebradiças, além de rugas e flacidez”, afirma a dermatologista Dra. Claudia Marçal, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e professora-fundadora do Dermacademy MB. Consultamos especialistas para entender por que essas alterações ocorrem:
Extremo 1 – Comer demais
De acordo com a nutróloga, no caso de quem comeu demais e principalmente abusou de junk foods, alimentos considerados mais inflamatórios (carboidratos de alto índice glicêmico, doces, gorduras trans, aditivos químicos), as consequências podem impactar o organismo como um todo porque a inflamação subclínica, que se instala com o consumo excessivo de açúcares adicionados e gorduras não saudáveis, aumenta o risco de doenças metabólicas, cardiovasculares, inflamatórias, degenerativas, neoplásicas e ainda acelera o envelhecimento cutâneo piorando a qualidade dos anexos como cabelos e unhas. “O aumento da queda dos cabelos e unhas frágeis e quebradiças, descartadas as causas patológicas, podem ser consequência de uma dieta desequilibrada”, diz a Dra Marcella.
Segundo a nutróloga, o excesso de açúcares adicionados é um grande vilão, que geralmente vem acompanhado de uma ingestão reduzida em proteínas, vitaminas, minerais e antioxidantes, condicionais para manter a saúde do organismo como um todo e ainda sobrar para o adequado aporte à pele, cabelo e unhas. Segundo a dermatologista e tricologista Dra. Kédima Nassif, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, em um primeiro momento, o excesso de açúcar causa inflamação e liberação de radicais livres. “Se isso acontece de forma contínua, o excesso de radicais livres pode alterar proteínas, lipídeos e até mesmo o DNA. Na pele, o excesso de radicais livres pode danificar o DNA das células provocando menor atividade celular, menor produção de colágeno e fibras elásticas, menor atividade de células de defesa e menor poder de cicatrização”, diz a Dra. Kédima. Elastina e colágeno são substâncias responsáveis pela firmeza da pele. “Elas deixam a pele mais esticada, mais firme. É o que uma pessoa jovem tem em excesso e, a partir dos 25 anos, vamos perdendo. Aliado a essa desestabilização provocada pela glicação destas células, que é a quebra de elastina e colágeno, faz com que a pele perca sua sustentação, como um arcabouço que vai se quebrando. A glicação, portanto, faz com que a pele perca colágeno e elastina, resultando em rugas e flacidez”, explica a dermatologista. Mas não é só isso: “O processo de glicação age principalmente nas linhas de expressão e flacidez. Mas produz, sim, rugas e pode piorar as manchas pelo processo de oxidação celular”, alerta a Dra Kédima. Mas o excesso de açúcar, por potencializar a inflamação, influencia mais rapidamente também no aparecimento e na piora da acne e oleosidade.
Além disso, lembra a médica nutróloga, um perfil inflamatório exacerbado pelo consumo excessivo de açúcares pode fazer desencadear ou agravar doenças inflamatórias na pele como dermatite e psoríase. “O excesso de açúcar na dieta pode comprometer a saúde dos folículos capilares aumentando a possibilidade de eflúvio (queda de cabelos). Muito açúcar circulando é um dos fatores que propicia um desequilíbrio da microbiota do organismo como um todo e consequentemente maior prevalência de atopias e proliferação de fungos que comumente atingem as unhas”, diz a Dra. Marcella.
O consumo excessivo de sódio, gorduras não saudáveis como as gorduras trans e interesterificadas, frituras de imersão, além do excesso de corantes e conservantes dos alimentos processados e ultraprocessados também pode impactar a pele e os anexos cutâneos. “Além das consequências metabólicas nas estruturas cutâneas, essas moléculas podem ser responsáveis pelo aumento de reações alérgicas e de aumento da sensibilidade”, diz e nutróloga. “Lembre-se de controlar a quantidade de sódio nas refeições, pois ele colabora na retenção de líquido e isso acaba piorando a sensação de inchaço facial e corporal. Temos visto que, dentro de casa por conta da pandemia, as pessoas acabam descuidando muito da alimentação e consomem mais produtos enlatados e processados, ricos em sódio. E fique de olho em sucos de caixinha, que também têm muito sódio na composição”, afirma a dermatologista Dra. Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Extremo 2 – Comer pouco
O ideal é que qualquer emagrecimento rápido ou que conte com perda ponderal de mais de 10% do peso corporal tenha acompanhamento médico. “Só assim é possível descartar patologias e carências que agravam os sinais físicos de um emagrecimento não orientado. Como em muitas ocasiões a perda de peso não é monitorada, as intervenções nutrológicas devem ser incorporadas assim que o aspecto de envelhecimento precoce ou acelerado pelo emagrecimento for notado”, diz a Dra. Marcella. “Quando pensamos em perda de peso, pensamos sempre na perda de volume e de gordura corporal, num corpo mais esguio, em mais energia e numa autoconfiança perdida que fora agora reconquistada. Até aqui, tudo bem, são efeitos naturais dos quilos perdidos. Mas um processo de perda de peso tem ainda implicações também no rosto, afinal perdemos gordura no corpo inteiro, e isso nem sempre agrada”, afirma o cirurgião plástico Dr. Mário Farinazzo, membro Titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) e Chefe do Setor de Rinologia da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). De acordo com o cirurgião plástico, a perda de peso excessiva e sem acompanhamento causa a redução do volume que mantinha a pele mais esticada. “Com essa redução, há uma ‘sobra’ da pele, obviamente se considerarmos uma perda expressiva de gordura”, diz o médico. “Este fenômeno é particularmente mais importante no rosto, sendo mais significativo no terço inferior e no pescoço”, afirma o especialista. A acentuação da flacidez do rosto e do pescoço parece ser a consequência mais clara, porém, mais rugas, mais olheiras e mudança da expressão facial aparecem também.
Além disso, existe o problema das carências nutricionais. Uma alimentação com déficit calórico muito expressivo (ou seja, quando as calorias ingeridas são extremamente menores que a taxa metabólica) trará resultados para o emagrecimento, mas poderá causar sérios problemas ao corpo. “Além do déficit calórico, o déficit proteico e a pouca ingestão de água são os fatores alimentares que mais rapidamente impactam negativamente as estruturas da pele, porém nutrientes importantes como vitaminas, minerais e antioxidantes são essenciais para a manutenção da saúde cutânea, portanto não há pele saudável sem alimentação equilibrada”, afirma a Dra. Marcella. Trocando em miúdos? Quando você escolhe pela escassez para emagrecer, está deixando seu organismo sem os nutrientes necessários para manter a beleza da sua pele, cabelo e unhas. “Automaticamente, tendemos a ficar com a aparência mais envelhecida, principalmente pela redução do aporte proteico que compromete a síntese de fibras colágenas para manutenção e reposição de estruturas dérmicas”, diz a nutróloga.
Mas o problema não para por aí: as carências de vitaminas, minerais, proteínas, gorduras e carboidratos de boa qualidade também impactam na saúde dos fios e do couro cabeludo. Seu cabelo é composto principalmente de proteínas, portanto, incluir quantidades adequadas em sua dieta é vital para o crescimento do cabelo. “Alimentos que são boas fontes de proteínas são peixe, frango, carne magra, ovos, feijão, quinoa, tofu e leguminosas. O ovo por exemplo é um velho conhecido quando o assunto é saúde capilar, sendo incluído em receitas caseiras de hidratação dos fios. Sua boa ‘fama’ vem do fato de que o ovo é rico em proteínas, ácidos graxos, aminoácidos essenciais, vitaminas e minerais como zinco, selênio e ferro. Esses micronutrientes são envolvidos nos processos de formação da fibra capilar e de multiplicação das células da raiz do cabelo, facilitando o processo. É por isso que o consumo de ovos contribui para sua saúde capilar”, diz a tricologista Dra. Kédima Nassif.
Aproximadamente 85% do cabelo é formado de queratina, que é uma proteína, e por ser um tecido de excreção, é formado de aminoácidos sobressalentes para essa função. “Se não houver sobra de aminoácidos, não há boa síntese de queratina. Além disso, minerais metálicos como ferro e cobre além de vitaminas do complexo B como a biotina participam da manutenção da saúde capilar”, diz a nutróloga. Se você tiver carência desses nutrientes durante o déficit calórico extremo (e provavelmente você tem), seu cabelo irá cair mais num quadro intenso (eflúvio telógeno), a textura dos fios podem mudar, além de ficarem mais fracos e propensos à quebra. “O ferro também é crucial para manter a textura natural dos fios; um baixo nível do nutriente é um dos principais motivos do crescimento de fios curtos e finos, principalmente nas têmporas e laterais”, afirma a Dra. Kédima.
Segundo a Dra. Paola Pomerantzeff, como as unhas também são formadas por queratina, a alimentação deficiente nutricionalmente pode torná-las mais quebradiças e fracas, além do aparecimento de manchas brancas.
Extremo 3 – Comer pouco compensatoriamente após comer demais
Quem foi de um extremo ao outro durante a pandemia aproveitou o que há de pior no “8 e 80” da dieta e está mais propenso a continuar desenvolvendo alterações na pele, cabelo e unha, se não buscar ajuda médica nutrológica. “Tanto as pessoas com restrições alimentares como as que estão consumindo compulsivamente determinados alimentos podem ter impactos negativos na pele e muitas vezes precisam de orientação médica. Ir de um extremo ao outro só prolonga o período em que o corpo está sendo mal nutrido. Sem contar que outro fator com grandes impactos negativos na pele e anexos cutâneos nesses tempos de pandemia é o estresse, que pode ter inúmeras consequências de variadas intensidades, que geralmente precisam de intervenção médica”, afirma a médica nutróloga.
A melhor maneira de começar a pensar em novos hábitos é buscar ajuda médica. Com mudanças no hábito alimentar e a prescrição individualizada de suplementos alimentares, muito do aspecto indesejável que surgiu na pele pode ser minimizado. “Existem diversos tratamentos para as alterações citadas e o dermatologista e cirurgião plástico podem ser consultados, mas sem esquecer de buscar ajuda de um médico nutrólogo. Muitos tratamentos externos não têm boas respostas sem a associação com orientações alimentares e suplementares de forma individualizada. O objetivo nessa situação é obter as melhores respostas e resultados nos procedimentos estéticos ou cirúrgicos eleitos para corrigir cada alteração”, completa a Dra Marcella. Mas, no geral, a nutróloga afirma que quem percebeu essas alterações na pele, cabelo e unhas, pode investir em uma dieta adequada, equilibrada, variada e colorida, rica em proteínas magras, carboidratos complexos integrais e gorduras boas, além de vegetais folhosos, legumes coloridos, frutas e bom consumo de água.
FONTES: DRA. CLAUDIA MARÇAL, DRA. KÉDIMA NASSIF, DRA. PAOLA POMERANTZEFF, DRA. MARCELLA GARCEZ, DR. MÁRIO FARINAZZO
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